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Remendar e bem merendar!


O Verão para muito de nós significa “merenda”. Quem prescinde do farnel estará bom da cabeça?


Mesmo em tempos de outras riquezas e quando o dinheiro era sempre á conta, não era só para poupar que se optava por esta forma de refeição. Já que se ia deixar o conforto do lar ao menos levava-se um pouco dele de viagem. Os sabores da nossa casa, iam no nosso bolso, ou pelo menos no nosso cesto de verga, o famoso “cabaz”.


O meu avô como qualquer reformado da CP, só conhecia um meio de transporte, o comboio. Por essa razão, o comboio para mim é sinónimo de bons repastos. Acho que o som daquele comboio era algo parecido com: “Pouca terra, pouca terra, paio, paio, pouca terra, pouca terra, rissol, rissol...”.


O avô Chico Cesteiro podia até esquecer-se da carteira em casa, mas do cabaz com a merenda ele não se esquecia. Acreditem ou não, ainda o comboio não tinha partido e já o cesto estava aberto e um pastel de bacalhau nos lambuzava os dedos. Ui que saudades me bateram agora!


Os pasteis de bacalhau eram sempre maravilhosos, mas o ponto alto da viagem era sempre a primeira dentada num ovo verde. A minha avó era quem os preparava. Ela não gostava de cozinhar e não podemos dizer que era uma cozinheira de mão cheia, mas nunca ninguém conseguirá fazer ovos verdes como ela fazia. Suspeito que ela tinha uma fórmula secreta para calcular a quantidade exata de vinagre ou então sou só eu que tenho saudades daquele sabor.


Mas nem só para passeio servia a merenda. A merenda era senhora e rainha sempre que a família se juntava para um trabalho em que eram precisas muitas mãos. Na altura da apanha da batata, da desfolhada ou mesmo da vindima, a merenda era, e ainda é, o ponto alto. É na altura da merenda que o corpo descansa e que a conversa, a partilha e o prazer ocupam o lugar cimeiro. Nas festas, fossem elas pagãs ou religiosas, a merenda era uma questão de orgulho. As famílias quase que lutavam entre si para que o seu fosse o melhor repasto. Mas no fim nada sabia melhor do que a partilha em grupo de todas as iguarias.


Acho que podemos sem qualquer pudor dizer que as merendas foram uma das maiores armas de proteção da comida regional, da comida de raiz. Foi através delas que a mensagem e conhecimento passou entre famílias e até entre gerações. A nossa matriz cultural está envolvida numa toalha ao xadrez com comida dentro.


Acho que através desta partilha se consegue fazer uma carta gastronómica de qualquer região. Até porque, na grande parte dos casos, iam os “pratos preferidos”. Os pratos de que não se prescindia, aqueles que estão sempre associados á recompensa, seja ela porque compensam um dia árduo de trabalho ou então porque amenizam a ausência do lugar de conforto.



Estará então na hora de passar pelo mercado na Segunda-feira, comprar um cabaz e preparar o manjar. Nunca esquecendo a toalha de quadrados que, não haja duvidas, influencia o sabor!


Teremos de ter algum cuidado quando começarmos a preparar o menu, muitos dos petiscos eram fritos. Como tal, vamos tentar balancear com alguns pratos que nos saibam tão bem ou melhor, mas que não nos aumentem a conta da farmácia.


Depois de tanta conversa vou mas é começar a preparar a “bucha”. Vamos lá ver se o vosso cesto é melhor do que o meu, já sabemos que nunca será “melhor que o da vizinha”, mas não custa tentar.


Eu dos ovos verdes não vou prescindir, já tenho seis ovos a cozer, depois é só corta-los no sentido do comprimento. Com cuidado vou tirar a gema para não estragar as claras. Depois das gemas desfeitas vou juntar uma colher de azeite, uma pitada de sal, um pouco de pimenta preta, bastante salsa e vinagre a gosto (infelizmente nunca acertei na fórmula da minha avó). Usamos então esta mistura para voltar a encher as claras. Passamos as claras já enchidas por farinha e de seguida por uma polme feita com 2 ovos e uma colher de farinha. Agora já só nos falta fritar e assim que arrefeçam, provar um. Temos de ter a certeza que estão bons e que não vão fazer mal a ninguém, ou pelo menos esta é a desculpa que eu uso.


É sempre bom pensarmos em pratos que sejam comidos bem quando frios e um escabeche vem sempre a calhar. Como prefiro não usar sempre os mesmos ingredientes, vou propor um escabeche diferente, um escabeche de ervilhas tortas. Descasco uma cebola e corto em rodelas finas, coloco em lume brando com uma colher de azeite, meia colher de pimenta preta, uma folha de louro e uma pitada de sal. Quando a cebola estiver bem macia, junto um ramo de coentros, um dente de alho laminado, uma tigela de ervilhas tortas e três colheres de vinagre de vinho branco. Depois de cozinharem 2 minutos, tapo e apago o lume. Este prato sabe sempre melhor no dia seguinte, não vale a pena usar o truque da receita anterior.


A saladinha também não pode faltar, na verdade nem é preciso pensar muito, basta pensar no que temos á mão. Deixa lá ver, tenho beterraba cozida, uns morangos, hortelã, tomates e umas nozes, acho que estou safo. Vou preparar tudo em tacinhas separadas e na hora de colocar a comida na manta, é só misturar e temperar com sal, pimenta preta e azeite.


Ia a fechar o frigorifico e acabei por encontrar também uns alperces e uns espargos, vou grelhá-los e fazer uma salada com alface roxa. Só temperada de sal e azeite.


Como não podia deixar de ser, um doce não pode faltar, e para sobremesa nada melhor que recuperar outra das memórias e fazer uma torta de chocolate. Comecemos pelo chocolate que depois terá de arrefecer. Num tacho, a lume baixo, juntar duzentas gramas de chocolate negro, uma colher de sobremesa de açúcar e um pacote de natas. Misturar bem até ficar bem homogéneo. Deixar arrefecer. Para a torta bater uma chávena de açúcar com cinco gemas. À parte bater em castelo as claras dos mesmos ovos. Juntar, às gemas, uma chávena de farinha e uma colher de café de fermento com as gemas e açúcar. Mexer bem e por fim envolver as claras sem bater. Levar a forno pré aquecido a cento e oitenta graus por uns vinte minutos. Assim que o “bolo” estiver bem cozido colocar num pano previamente polvilhado com açúcar e rechear com o chocolate. Com a ajuda do pano e com muito cuidado enrolar em formato de torta. Aparar as pontas, não para que fique bonito mas para satisfazer a nossa gula de provar de imediato.


Agora que temos o banquete preparado, nunca esquecer que qualquer pretexto é bom para uma merenda.


Ovos verdes

8 ovos

Um ramo pequeno de salsa

Farinha

Vinagre

Sal, azeite e pimenta


Escabeche de Ervilhas Tortas

1 cebola

1 colher azeite

150g ervilhas tortas

1 molho pequeno de coentros

3 colheres de vinagre de vinho branco

Louro, sal e pimenta



Salada de Beterraba e Morangos

2 beterrabas cozida

6 morangos

6 tomates cereja

Nozes

Hortelã

Sal, pimenta e azeite


Salada de Alperce, e Espargos

3 alperces

100g espargos

Meia alface roxa

Sal e azeite



Torta de Chocolate

Bolo:

1 chávena de açúcar

5 ovos

1 chávena de farinha

1 colher de café de fermento


Recheio:

1 pacote de natas

200g chocolate negro

1 colher sobremesa de açúcar




 
 
 

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